© Fernando Neto
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Sonhar
A vida...
Será sempre uma caixa de surpresas,
Para quem vive no improviso...
Tendo como meta
A facilidade...
E
Caminhamos juntos na areia húmida da praia para
que outros
Possam seguir as nossas pegadas…
©Fernando Neto
Quase
nunca é um poema
mas
faço da palavra liturgia
e
trêmulo perambulo alegorias
adormeço
em vigília da sintaxe
quase
nunca é um poema
mas
se um dia for
ofereço-vos
numa consoada.
©Fernando
Neto
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©Fernando Neto (1976)
Repare nos sapatos,
Rotos, baços,
Bagaços sem duração.
E beijam o chão.
Repare nos tênis,
Os que custam poucos níqueis,
Os que valem quinze vezes
Uma boa refeição.
Todos acarinham
E beijam o chão.
Repare nas sandálias,
As de borracha,
Ou aquelas cujas tiras
Sobem pelos tornozelos,
Ou as de couro, sem zelo
Na produção.
Todas feitas para o beija-chão,
O mesmo chão que enterrará
Os pés
Após tantos passos passados.
Por isso é justo que haja
Um museu dos calçados.
©Fernando Neto
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Que bom seria uma gruta, um grito, um silêncio, um relâmpago, qualquer coisa sem ampulhetas, simples de instante à medida do desejo sonolento, sem carrilhões de tempo eterno até ver.
Um campo de papoilas
onde o vento só balbuciasse uma cidade de luzes silenciosa.
Silêncio para ouvir
a minha ânsia, a inquietação, o baile das palavras por arrumar, o espaço onde
me quero, na latitude que procuro.
Um relâmpago, um
vento, uma carícia, uma estrada uma mão, um mapa onde me perca, me subverta, me
alimente.
Um livro. Talvez um
livro!
Um livro oráculo com
os mistérios que eu não sei, um livro com as palavras por aprender, um livro
para caminhar e para ler todos os dias sem acabar.
Um livro. Só.
© Fernando Neto