Sapatos



 Repare nos sapatos,

Rotos, baços,

Bagaços sem duração.

E beijam o chão.

 

Repare nos tênis,

Os que custam poucos níqueis,

Os que valem quinze vezes

Uma boa refeição.

Todos acarinham

E beijam o chão.

 

Repare nas sandálias,

As de borracha,

Ou aquelas cujas tiras

Sobem pelos tornozelos,

Ou as de couro, sem zelo

Na produção.

Todas feitas para o beija-chão,

 

O mesmo chão que enterrará

Os pés

Após tantos passos passados.

 

Por isso é justo que haja

Um museu dos calçados.

©Fernando Neto

Sem comentários:

Visitas

Contador de visitas

Contribuidores

Creative Commons License Esta obraestá licenciada sob uma Licença Creative Commons.